terça-feira, 14 de abril de 2009

Leishmaniose - Terceira parte

Bom, depois de participar do primeiro seminário a respeito do assunto aqui no Estado, posso informar que o RS tem 3 áreas transmissão confirmadas para leishmaniose visceral. São elas: São Borja; Porto Xavier e Uruguaiana. Nessa localidades o centro de estadual de vigilancia em saúde (CEVS) está trabalhando com todo o afinco, aprendendo a controlar e combater o problema na prática.
Fora essas localidades não há registros de casos humanos ou caninos da doença, portanto, os boatos da doença em Canoas ou qualquer outra localidade são falsos. Alerto para isso, porque não devemos estimular o medo e causar pânico através dessas informações descabidas. Ressalto mais uma vez, o mosquito, transmissor da doença não tem como caracteristica vôo longo, portanto não tem como sair de qualquer região das confirmadas e trazer a doença a Porto Alegre. Quem pode fazer isso, são os seres humanos infectados os os animais (fontes de infecção). Os últimos muitas vezes são removidos da área confirmada após o diagnóstico positivo, por seus proprietários que temem a eutánasia. Isso com certeza coloca em risco toda a população e atrapoalha o controle da doença, que vai se espalhando de forma inconsequente.

Com relação à eutánasia, essa ainda é usada em animais positivos e doentes, como maneira de controle e combate a reservatórios.

Na presença de caso suspeito o clínico veterinário deve confirmar o diagnóstico através de exame parasitológico (identificação direta do parasito em lâminas) e/ou sorológicos, podendo os mesmos serem enviados a laboratórios privados de referência ou ao próprio LACEN (laboratório central do Estado). Os casos suspeitos ou confirmados devem ser notificados ao CEVS. Por enquanto a notificação é compulsória, porém, existe a tentativa de torna-la OBRIGATÓRIA. Visando, aumentar as informações e combater e conheçer o comportamento da doença no EStado.

No momento, aos colegas médicos veterinários recomendo atenção a casos possivelmente suspeitos. Aos proprietários de animais, sugiro calma e que procurem informações em orgãos e profissionais confiáveis...não dando ouvidos a boatos infundados ou maldosos de quem só quer ganhar dinheiro, fama ou mesmo... criar confusão, fazendo o "circo pegar fogo".

Para aqueles que tiverem dúvidas ou maiores informações: vetjairo@gmail.com
Também sugiro o próprio site da secretária estadual de saúde - rs.


abraços!

terça-feira, 7 de abril de 2009

Leishmaniose - segunda parte

Com relação a epidemiologia da doença, a Leishmaniose é considerada uma patologia cosmopolita, de distribuição mundial, não ocorrendo apenas na Nova Zelandia e ilhas da Oceânia. Mesmo assim, 90 % dos casos notificados estão concentrados em 6 países, dentre os quais se encontra o Brasil. Estando, os casos, vinculados a áreas mais pobres e de poucos recursos no quesito saneamento basico e coleta de lixo.

A patologia é considerada pela organização mundial de saúde (OMS) com a uma das principais doenças transmitidas por vetores no mundo. No brasil, a maioria dos casos ocorre nas regiões norte e nodeste. Até o ano 2000, o único estado da federação sem registros de casos originados no local( Autóctones) era o RS, sendo considerada área livre de risco transmissão. Porém, em 2002 foi notificado o primeiro caso autóctone da manifestação tegumentar da doença no município de Porto Alegre. Até 2005, já existiam 17 casos humanos confirmados em 3 áreas de foco: Porto Alegre/Viamão; Região das Missões (Rolante, São miguel e Santo Antônio das Missões) e Litoral (Capão da Canoa). Entretanto, não houve nesse focos confirmação da participação do cão como fonte de infecção principal, acreditando-se haver a participação de animais silvestres na perpetuação do ciclo, já que todos os casos ocorreram próximo a mata ou resquísios de mata nativa.

Os orgãos competentes , a partir da notificação dos casos da capital, tomaram as providencias cabíveis para o controle, combate e tratamento dos casos e da doença. Porém, em 2008, surgiu a confirmação do diagnóstico de Leishmaniose Visceral em um cão proveniênte de São Borja e, logo depois, começaram a ocorrer os casos humanos da doença na cidade. Fato alarmante, que colocou o sistema de saúde do Estado em alerta, visto que a manifestação visceral tem maior mortalidade quando não tratada, podendo levar a morte cerca de 80 % dos casos humanos não tratados.

Provavelmente, os cães errantes (de rua) e o domiciliado que foi o primeiro a ser diagnósticado, tenham se infectado a partir da proximidade de São Borja com a Argentina, local endêmico para a patologia. Dessa forma, não há relação entre os casos ocorridos da forma tegumentar da doença e sua apresentação visceral. Até porque, é importante a compreensão de que as espécies de Leishmania causadoras de ambas as manifestações clínicas são diferentes e que o mosquito vetor, no geral, não apresenta o vôo de longas distâncias como característica comportamental. Então, fica claro que a manifestação visceral entrou em nosso Estado de forma silenciosa e mais uma vez pegando os orgãos de vigilancia de surpresa.

Agora resta esperar as conclusões dos estudos epidemiológicos que visam conheçer o comportamento da doença na região, assim como, torcer para que as medidas de combate e controle presentes no manual do Ministério da Saúde tenham efeito positivo nesse foco visceral, controlando a disseminação da doença em nosso Estado.

Na proxima postagem, trago as novidades do encontro de classe, do qual já falei...e informações sobre vacinação e a polêmica da eutánasia de cães como forma de controle da patologia!

Abraços!

domingo, 5 de abril de 2009

Leishmaniose Viceral ou Tegumentar?...Que que é isso???



Escrevo sobre a doença na esperança de contribuir de alguma forma com os colegas clínicos veterinários e com os proprietários de cães e gatos, os quais já começam a correr até as clínicas a procura de vacinas e informações a respeito da Leishmaniose. Tomo a palavra a esse respeito com certa propriedade por ser esse o tema de meu mestrado. Portanto vamos lá!

Leishmaniose é uma doença causada por um protozoário conhecido com Leishmania. existem várias espécies pertencentes a esse gênero de parasito. A Leishmania para desenvolver seu ciclo de vida de forma completa necessita de 2 hospedeiros, um vertebrado e outro invertebrado. Entre os vertebrados podemos citar canídeos silvestres e domésticos(cães, raposas e etc), marsupiais (gambas, preguisas e etc), muarinos, equinos, suínos, roedores silvestes e domésticos, assim como primatas (macacos, bugios...). O hospedeiro invertebrado aqui nas américas e um mosquito pertecente ao gênero Lutzomya, conhecido também como flebotominio. Existem aproximadamente umas 70 espécies do gênero que já foram descritas como hospedeiros do parasito.

Uma caracteristica particular dessa espécie de mosquitos é o fato de que colocam seus ovos na matéria orgânica úmida...em decomposição(lixo, casca de arvores, folhas)! Esse detalhe faz com que as campanhas de combate a dengue, febre amerela e demais doenças transmitidas por mosquitos não funcionem para o controle de Leishmaniose, uma vez que, os vetores dessas colocam ovos na superfície da água. O período de maior risco de transmissão da Leishmaniose, ocorre do crepúsculo até por volta das 23 horas. Período em que as fêmeas do mosquito realizam a hematofagia, ou seja, se alimentam de sangue que é necessário para a postura dos ovos.

Simplificando, o ciclo se dá da seguinte forma: Ao se alimentar de sangue de um hospedeiro vertebrado, a fêmea do mosquito ingeri a Leishmania, que após alguns dias se multiplicando no intestino do inseto vetor, se torna infectante. A partir desse momento, quando a fêmea infectada faz nova hematofágia, trasmite o parasito para novo hospedeiro vertebrado, dando continuidade ao ciclo.

Clinicamente a Leishmanose têm 2 apresentações clínicas em humanos: Visceral, que produz lesões em orgãos como fígado, baço e rins. Podendo gerar, entres outros sinais clínicos, quadros de poliartrite, insuficiência hepática, renal e quando não tratada( em humanos), levando a morte.

Tegumentar: quando o parasito causa lesões exclusivamente na pele e mucosas. As lesões variam desde pequenas úlceras até lesões deformantes, envolvendo a perda do septo nasal e lábios, produzindo aspectos hanseníformes.

Em cães, a forma clínica e as lesões são similares as descritas anteriormente. Porém estudos indicam que até 40% dos caes infectados não apresentam sinais clínicos da doença. Ai surge um grande problema de saúde publíca, pois os animais infectados sem sinal clínicos são igualmente capazes de transmitir o parasito ao mosquito, sendo então consideradas fontes silenciosas de infecção. Outro agravante associado a isso é o fato dos cães serem os animais mais próximos das familias no grandes centros, facilitando a transmissão da doença. De agora em diante devido a importância dos cães como fonte de infecção, falaremos neles e em humanos na maior parte do tempo.

Originariamente a Leishmaniose era restrita a áreas de floresta, matas fechadas...num ciclo envolvendo apenas os mosquitos e os animais silvetres. Sendo comum sua ocorrência em militares, ribeirinhos e profissionais que de alguma forma entravam em contato com o ciclo silvestre da doença. Com o crescimento dos grandes centros...a expansão demografica desordenada e as desigualdades sociais, fizeram com que através de desmatamento, lotementos e construção de estradas, toda um urbanização ocorresse em áreas ou próxima de áreas antes silvestres. A partir desse ponto surge um novo ciclo de transmissão da doença, ciclo urbano...envolvendo, principalmente, as periferias das grandes cidades onde por falta de saneamento, acumula-se lixo e vive-se muitas vezes nas bordas ou resquísios da mata nativa e existem cães domiciliados e errantes. Nesse novo ciclo, não existe mais somente a participação de animais silvestres, assim como, a ocorrência não fica atrelada a profissão ou principalmente a homens. Esse é o ciclo mais atual da doença que frequentemente vem sofrendo modificações...devido ao comportamento dos centros urbanos.

Com relação ao tratamento, o mesmo é disponobilizado de forma gratuíta pelo SUS, somente para o tratamento de humanos. Sendo proibido o tratamento de cães com medicações destinadas ao tratamento humano liberadas pelo SUS.

O Ministério da Sáude não atoriza o tratamento de animais pelo fato de não haver confirmação de que o tratamento elimine o estado de portador do animail, assim como, por que estudos revelaram que cães tratados podem apresentar rencidivas. Acrescentando ainda, o fato de que os principais protocolos de tratamento para cães envolvem os antimoniais pentavalentes (drogas usadas em humanos e liberadas pelo SUS) em doses 10 vezes maiores que as utilizadas em humanos, ocorrendo o risco de seleção de parasitos resistentes. Fato que tornaria cada vez difícil o controle e tratamento em humanos.

Como medidas de controle em surtos da doença, o MS (ministério da saúde) recomenda: a autanásia dos cães sorológicamente positivos para o parasito; realização de ínquirito soroepidemiologico humano e canino na área de foco; notificação de casos humanos e veterinários aos orgãos competentes; uso de repelentes, coleiras repelentes em cães, mosquiteiros em casa e evitar acumulo de materia orgânica próxima as residências, assim como, evitar se expor no ambiente na hora de maior atividade do mosquito.

O diagnóstico da doença pode ser feita pela identificação do parasito em esfragaços sanguineos, aspirados de medula e biópsias de figado, baço e medula óssea, assim como, de linfondos. Pela indentificação de anticorpos, em exemes sorológicos como o ELISA, Imunofluorescência indireta e o PCR, e por técnicas de cultura em meios de cultivo ou pelo inoculçaõ em hamester, sendo os ultimos destinados mais ao meios acadêmicos.

Na próxima postagem abordarei mais a questão epidemiologica do RS e a situação emergêncial da doença no Estado....Terça-feira, temos reunião da classe médica veterinária em debate e esplanações sobre o tema...provavelmente traga a voces novidades...



Abraços!