domingo, 5 de abril de 2009

Leishmaniose Viceral ou Tegumentar?...Que que é isso???



Escrevo sobre a doença na esperança de contribuir de alguma forma com os colegas clínicos veterinários e com os proprietários de cães e gatos, os quais já começam a correr até as clínicas a procura de vacinas e informações a respeito da Leishmaniose. Tomo a palavra a esse respeito com certa propriedade por ser esse o tema de meu mestrado. Portanto vamos lá!

Leishmaniose é uma doença causada por um protozoário conhecido com Leishmania. existem várias espécies pertencentes a esse gênero de parasito. A Leishmania para desenvolver seu ciclo de vida de forma completa necessita de 2 hospedeiros, um vertebrado e outro invertebrado. Entre os vertebrados podemos citar canídeos silvestres e domésticos(cães, raposas e etc), marsupiais (gambas, preguisas e etc), muarinos, equinos, suínos, roedores silvestes e domésticos, assim como primatas (macacos, bugios...). O hospedeiro invertebrado aqui nas américas e um mosquito pertecente ao gênero Lutzomya, conhecido também como flebotominio. Existem aproximadamente umas 70 espécies do gênero que já foram descritas como hospedeiros do parasito.

Uma caracteristica particular dessa espécie de mosquitos é o fato de que colocam seus ovos na matéria orgânica úmida...em decomposição(lixo, casca de arvores, folhas)! Esse detalhe faz com que as campanhas de combate a dengue, febre amerela e demais doenças transmitidas por mosquitos não funcionem para o controle de Leishmaniose, uma vez que, os vetores dessas colocam ovos na superfície da água. O período de maior risco de transmissão da Leishmaniose, ocorre do crepúsculo até por volta das 23 horas. Período em que as fêmeas do mosquito realizam a hematofagia, ou seja, se alimentam de sangue que é necessário para a postura dos ovos.

Simplificando, o ciclo se dá da seguinte forma: Ao se alimentar de sangue de um hospedeiro vertebrado, a fêmea do mosquito ingeri a Leishmania, que após alguns dias se multiplicando no intestino do inseto vetor, se torna infectante. A partir desse momento, quando a fêmea infectada faz nova hematofágia, trasmite o parasito para novo hospedeiro vertebrado, dando continuidade ao ciclo.

Clinicamente a Leishmanose têm 2 apresentações clínicas em humanos: Visceral, que produz lesões em orgãos como fígado, baço e rins. Podendo gerar, entres outros sinais clínicos, quadros de poliartrite, insuficiência hepática, renal e quando não tratada( em humanos), levando a morte.

Tegumentar: quando o parasito causa lesões exclusivamente na pele e mucosas. As lesões variam desde pequenas úlceras até lesões deformantes, envolvendo a perda do septo nasal e lábios, produzindo aspectos hanseníformes.

Em cães, a forma clínica e as lesões são similares as descritas anteriormente. Porém estudos indicam que até 40% dos caes infectados não apresentam sinais clínicos da doença. Ai surge um grande problema de saúde publíca, pois os animais infectados sem sinal clínicos são igualmente capazes de transmitir o parasito ao mosquito, sendo então consideradas fontes silenciosas de infecção. Outro agravante associado a isso é o fato dos cães serem os animais mais próximos das familias no grandes centros, facilitando a transmissão da doença. De agora em diante devido a importância dos cães como fonte de infecção, falaremos neles e em humanos na maior parte do tempo.

Originariamente a Leishmaniose era restrita a áreas de floresta, matas fechadas...num ciclo envolvendo apenas os mosquitos e os animais silvetres. Sendo comum sua ocorrência em militares, ribeirinhos e profissionais que de alguma forma entravam em contato com o ciclo silvestre da doença. Com o crescimento dos grandes centros...a expansão demografica desordenada e as desigualdades sociais, fizeram com que através de desmatamento, lotementos e construção de estradas, toda um urbanização ocorresse em áreas ou próxima de áreas antes silvestres. A partir desse ponto surge um novo ciclo de transmissão da doença, ciclo urbano...envolvendo, principalmente, as periferias das grandes cidades onde por falta de saneamento, acumula-se lixo e vive-se muitas vezes nas bordas ou resquísios da mata nativa e existem cães domiciliados e errantes. Nesse novo ciclo, não existe mais somente a participação de animais silvestres, assim como, a ocorrência não fica atrelada a profissão ou principalmente a homens. Esse é o ciclo mais atual da doença que frequentemente vem sofrendo modificações...devido ao comportamento dos centros urbanos.

Com relação ao tratamento, o mesmo é disponobilizado de forma gratuíta pelo SUS, somente para o tratamento de humanos. Sendo proibido o tratamento de cães com medicações destinadas ao tratamento humano liberadas pelo SUS.

O Ministério da Sáude não atoriza o tratamento de animais pelo fato de não haver confirmação de que o tratamento elimine o estado de portador do animail, assim como, por que estudos revelaram que cães tratados podem apresentar rencidivas. Acrescentando ainda, o fato de que os principais protocolos de tratamento para cães envolvem os antimoniais pentavalentes (drogas usadas em humanos e liberadas pelo SUS) em doses 10 vezes maiores que as utilizadas em humanos, ocorrendo o risco de seleção de parasitos resistentes. Fato que tornaria cada vez difícil o controle e tratamento em humanos.

Como medidas de controle em surtos da doença, o MS (ministério da saúde) recomenda: a autanásia dos cães sorológicamente positivos para o parasito; realização de ínquirito soroepidemiologico humano e canino na área de foco; notificação de casos humanos e veterinários aos orgãos competentes; uso de repelentes, coleiras repelentes em cães, mosquiteiros em casa e evitar acumulo de materia orgânica próxima as residências, assim como, evitar se expor no ambiente na hora de maior atividade do mosquito.

O diagnóstico da doença pode ser feita pela identificação do parasito em esfragaços sanguineos, aspirados de medula e biópsias de figado, baço e medula óssea, assim como, de linfondos. Pela indentificação de anticorpos, em exemes sorológicos como o ELISA, Imunofluorescência indireta e o PCR, e por técnicas de cultura em meios de cultivo ou pelo inoculçaõ em hamester, sendo os ultimos destinados mais ao meios acadêmicos.

Na próxima postagem abordarei mais a questão epidemiologica do RS e a situação emergêncial da doença no Estado....Terça-feira, temos reunião da classe médica veterinária em debate e esplanações sobre o tema...provavelmente traga a voces novidades...



Abraços!

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